Finalmente as roupas de calor saíram do armário nesse último final de semana. A última vez que vesti uma blusinha sem manga foi num dia de calor atípico em novembro de 2017. Depois, nunca mais, e já se foram 6 meses no frio.
Certamente, foi o inverno mais longo e especial da minha vida. Eu sempre detestei o frio, a questão é que, dessa vez, olhei para ele de uma maneira diferente: como uma oportunidade de contemplar a beleza da estação. Não apenas a beleza que vemos com os olhos mas, principalmente, a beleza que vemos dentro da gente quando o frio chega e você simplesmente se recolhe. Se não fosse o frio, a rua continuaria barulhenta, cheia de gente, cheia de atividades, festivais, shows, eventos, e nós não nos recolheríamos, não aquietaríamos, não pararíamos.
O frio chegou e eu me recolhi completamente. Sem dúvida, foi o momento mais introspectivo de todos os meus 32 anos. Um momento que eu ainda estava, relativamente, nova na cidade, na casa (numa vida inteira na verdade), e ainda sem amigos. Então aproveitei para fazer algo comigo. Algo que ninguém me ensinou mas eu aprendi sozinha: me enfiei embaixo das cobertas e comecei a me estudar, ganhar entendimento de mim mesma.
A ignorância e o senso coletivo nos faz acreditar que o frio é chato, que ficar em casa é perder tempo, que se enfiar debaixo das cobertas com livros e cadernos é coisa de velho, mas foi assim, fazendo tudo isso (aliás, que eu adoro fazer e continuarei como é óbvio) que fiz as mais lindas descobertas e mudanças da minha vida: entendi quem eu sou de verdade, qual a minha missão de vida e escolhi viver a vida de acordo com a minha verdadeira vontade.
Eu descobri a resposta da maior pergunta da minha vida: o que eu vim fazer nesse mundo? Eu sabia que não era possível que a vida fosse sofrer, trabalhar sem prazer, não ter tempo para viver de verdade, precisar de rios de dinheiro para desfrutar da vida com dignidade. E acertei, a vida não é isso mesmo não. É totalmente o contrário.
Agora que a primavera chegou e o calor está chegando aos poucos em Portugal, já senti uma mudança na minha própria vibração. É como se tudo que foi revelado à mim sobre mim mesma durante meu recolher, na minha introspecção, estivesse pronto para expandir. Hoje mesmo, senti uma vibração no corpo todo, uma energia linda e só me deu vontade de sorrir, amar e agradecer por estar viva e sentindo essa alegria de viver. Me deu vontade de viver mais, viver melhor.
Sabe gente, para uma pessoa como eu que, muitas vezes, não quis mais viver, que quis morrer pois não via sentido nenhum na vida que levava e não enxergava solução nenhuma pois vivia na escuridão de um vazio provocado pela falta de autoconhecimento, vocês podem imaginar que virada e que vitória?
Não existe mais vazio. Existe autoconhecimento, existe verdade e sentido agora.
Eu estou me despedindo aos poucos do frio, que está timidamente indo embora. Foi nesse outono/inverno, a primeira vez que percebi que a fase da minha vida se alinhou em perfeita harmonia com o ciclo da natureza. Agora agradeço e deixo ir.
Gratidão por tudo. Que tudo floresça dentro de mim, ao meu redor e se expanda juntamente com esse novo ciclo.
Que essa mensagem ajude a despertar mais e mais consciências sonolentas pelo mundo.
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